O Coração de Jesus e de Maria ao Mundo

O Coração de Jesus e de Maria ao Mundo

domingo, 2 de março de 2014

VOTO DE PERFEIÇÃO

     


         "Eis as circunstancias do voto a que, desde há muito tempo, me sinto impedida, e que não quis fazer sem o conselho do meu diretor e da minha superiora ( o P. Rollin, S.J. e a Madre Maria Cristina Melin.). Depois de o terem examinado, permitiram-mo, com a condição de quando me causasse inquietação ou escrúpulos, ... desligarem-me dele e cessaria o meu compromisso...
       Voto feiro na vigília de Todos-os-Santos para me unir, consagrar e imolar mais íntima, absoluta e perfeitamente ao sagrado Coração de N. S. Jesus Cristo.
        Primeiro: Ó meu único Amor, esforçar-me-ei por vos submeter e sujeitar tudo o que há em mim, fazendo o que considere mais perfeito e da maior glória do vosso sagrado Coração, ao qual prometo nada poupar, nem nada recusar fazer ou sofrer a fim de o dar a conhecer, amar, honrar e glorificar.
        Não negligenciarei nem omitirei nenhum dos exercícios e prescrições das minhas Regras, a não ser por caridade ou verdadeira necessidade, por obediência, à qual submeto todas as minhas promessas. Não evitar nenhum sofrimento, quer do corpo quer da alma, humilhação, desprezo ou contradição.
        Não pretender ou procurar outra consolação, prazer ou contentamento que não seja o de os não ter na vida, e quando a Providência mos apresentar, tomá-los-eis simplesmente, não por prazer, ao qual renuncio interiormente,... não me demorando a pensar se me apraz ou não, mas, antes, amar o meu Senhor, que me dá este prazer... Deixarei inteira liberdade à minha superiora de dispor de mim, como melhor lhe parecer, aceitando humilde e indiferentemente as ocupações que a obediência me der. Apesar da horrível repugnância que sinto por todos os cargos, esforçar-me-ei por nunca manifestar a minha relutância nem a que tenho em ir ao locutório ou em escrever cartas, fazendo tudo isso, como se me desse gosto...
        Considerarei todos os que me mortificarem ou disserem mal de mim, como os meus melhores amigos, tentando prestar-lhes todo o bem e atenções possíveis...
        Não procurarei a amizade de nenhuma criatura, a não ser que o sagrado Coração de Jesus Cristo me incite a isso, para levá-la ao seu amor ...
        Não me demorarei voluntariamente em pensamentos, não só maus, mas até mesmo inúteis, e considerar-me-ei como uma pobre na casa de Deus, que deve submeter-se a tudo, a quem tudo se faz e dá por caridade, e pensarei que até tenho sempre demasiado ...
        Diante de tudo, senti-me penetrada de tão grande temor de faltar, que não teria coragem de me comprometer, se não fosse fortificada e animada por estas palavras que me foram ditas, no mais intimo do coração: "que temes, se eu respondi por ti e me tornei teu fiador? A unidade do meu puro amor será a tua atenção na multiplicidade de todas estas coisas; e prometo-te que ele reparará as faltas que nisso poderias cometer e ele mesmo compensará por ti".
       Estas palavras imprimiram em mim tão grande confiança, que apesar da minha fraqueza, já nada temo, colocando em Deus a minha confiança que tudo pode, da qual tudo espero, e nada de mim."

Santa Margarida-Maria Alacoque - Autobiografia -Editorial Apostolado Oração - Braga, pgs.115,117

AMOR AO SANTÍSSIMO SACRAMENTO, E DESEJO DA COMUNHÃO

   

         " Ali passaria dias e noites inteiras sem comer nem beber, e sem saber o que fazia, consumindo-me em sua presença como tocha acesa, para lhe pagar amor com amor. Nem podia ficar ao fundo da igreja; e por mais confusão que em mim sentisse, não deixava de me aproximar o mais possível do Santíssimo Sacramento. Só julgava felizes e só invejava as pessoas que podiam comungar muitas vezes, e que tinham liberdade para ficar diante do Santíssimo; ainda que é verdade que ali eu empregava muito mal o meu tempo, e creio que não fazia senão faltar-lhe com as honras devidas.
      Procurava ganhar amizade das pessoas de que acima falei, para alcançar alguns momentos para o Santíssimo Sacramento. acontecia que, em castigo dos meus pecados, não podia dormir nada na véspera do Natal; e o pároco, na homilia, a clamar a grandes vozes que aqueles que não tivessem dormido, não podiam comungar, e que era preciso ter dormido antes. Por isso eu , que não podia dormir, não me atrevia a comungar (1). Assim, este dia de regozigo era para mim de lágrimas, e estas eram todo o meu alimento e todo o meu prazer".

(1)  Nesta época, não era rara a estranha opinião popular de que era preciso dormir, antes de comungar, na noite de Natal. E não há dúvidas que assim opinava também o Pe. António Alacoque, pároco de Verosvres.

Santa Margarida-Maria Alacoque - Autobiografia -Editorial Apostolado Oração - Braga, pgs.21,22

ATRATIVO PARA A ORAÇÃO

    "... No meio de tudo isto sentia-me tão fortemente atraída para a oração, que me dava grande pena não saber nem poder aprender como a havia de fazer, porque não tinha nenhum trato com pessoas espirituais, e não sabia de oração mais que o nome, que atraía a minha alma. Mas, acudindo ao meu soberano senhor, Ele me ensinou como queria que eu a fizesse, e isto me serviu para toda a vida. Mandava-me prostrar humildemente diante de si, para lhe pedir perdão de tudo aquilo em que o tivesse ofendido; e depois de o adorar, oferecia-lhe a minha oração, sem saber ainda como me havia de haver nela. Logo ele mesmo se me apresentava no mistério, em que queria que eu o considerasse.

     E tão fortemente absorvia ele o meu espírito, embebendo em si a minha alma e todas as minhas potências, que não entrava comigo distração alguma; pelo contrário, sentia o coração consumido em desejos de o amar; e daqui me nasci uma fome insaciável da sagrada comunhão e de sofrimentos; mas não sabia como orar. Não tinha outro tempo senão o da noite; dela tomava o que podia; e embora esta ocupação me fosse tão deliciosa, quanto sou incapaz de o explicar, não o tomava como oração, e sentia-me continuamente impelida a entregar-me a ela, e prometia ao Senhor que, logo que ele ma ensinasse, lhe havia de dar todo o tempo que pudesse. Mas sua divina Bondade tinha-me tão elevada na ocupação agora descrita, que me fez perder o gosto das orações vocais, e já não era capaz de as rezar diante do Santíssimo Sacramento, onde me sentia tão absorta, que nunca me aborrecia".

Santa Margarida-Maria Alacoque - Autobiografia -Editorial Apostolado Oração - Braga, pgs.20,21