O Coração de Jesus e de Maria ao Mundo

O Coração de Jesus e de Maria ao Mundo

segunda-feira, 3 de outubro de 2016



                                     Alegria de Servir


        Toda a natureza é serviço:
        serve a nuvem;
        serve o vento;
        serve a chuva.
        Onde houver uma árvore para plantar:
        planta-a tu mesmo.
        Onde houver um erro para corrigir:
        procura tu corrigí-lo.
        Onde houver um trabalho para fazer e
        todos se esquivam:
        fá-lo tu.
        É muito belo fazer aquilo que os outros
        recusam.
        Mas não caias no erro  de pensar
        que só há mérito nos grandes trabalhos.
        Há pequenos serviços que são bons 
        serviços:
        ornamentar uma mesa,
        arrumar livros,
        pentear uma criança.
        Uns criticam, outros destroem.
        Dispõe-te tu a servir.
        Servir não é coisa de seres inferiores.
        Remove tu 
        a pedra do caminho,
        o ódio que separa os corações
        e resolve as dificuldades do problema.
        Há alegria de ser puro
        e a de ser justo.
        Mas há, sobretudo,
        a maravilhosa, a imensa alegria de servir.

                                      Gabriela Mistral 1889-1957)
                                                     Poetisa chilena
                                                                      e Nobel da literatura em 1945


                                  

sexta-feira, 23 de setembro de 2016


                 TUDO TEM SEU TEMPO
 
1Tudo tem seu tempo. Há um momento oportuno para tudo o que acontece debaixo do céu. 2Tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de colher a planta. 3Tempo de matar e tempo de salvar; tempo de destruir e tempo de construir. 4Tempo de chorar e tempo de rir; tempo de lamentar e tempo de dançar. 5Tempo de atirar pedras e tempo de as amontoar; tempo de abraçar e tempo de separar. 6Tempo de buscar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de esbanjar. 7Tempo de rasgar e tempo de costurar; tempo de calar e tempo de falar. 8Tempo de amar e tempo de odiar; tempo de guerra e tempo de paz.
9Que proveito tira o trabalhador de seu esforço? 10Observei a tarefa que Deus impôs aos homens, para que nela se ocupassem. 11As coisas que ele fez são todas boas no tempo oportuno. Além disso, ele dispôs que fossem permanentes; no entanto o homem jamais chega a conhecer o princípio e o fim da ação que Deus realiza.

 Leitura do Livro do Eclesiastes.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016



     Caros amigos quero partilhar este belissimo testemunho encontrado no site Aleteia que nos mostra a verdadeira felicidade.   
     
          A oração mais simples do mundo

      Uma lição deixada pelo famoso cardeal Van Thuan

Depois da minha libertação, muitas pessoas me disseram: “Padre, na prisão o senhor teve muito tempo para orar”. Não é tão simples assim. O Senhor me permitiu experimentar toda a minha fraqueza, minha fragilidade física e mental.
O tempo passa lentamente na prisão, particularmente durante o isolamento. Imaginem uma semana, um mês, dois meses de silêncio… São terrivelmente longos, mas quando se transformam em anos, tornam-se uma eternidade.
Um provérbio vietnamita diz: “Um dia na prisão é como mil outonos fora dela”. Ali houve dias em que, reduzido ao maior cansaço, à doença, não consegui rezar uma única oração!
Vem-me à lembrança uma história, a do velho Jim. Todos os dias, às doze horas, Jim entrava na igreja, não mais do que dois minutos, depois saía. O sacristão era muito curioso e, um dia, deteve Jim e perguntou-lhe:
– Por que vem aqui todos os dias?
– Venho para rezar.
– Impossível! Que oração você pode fazer em dois minutos?
– Sou um velho ignorante, rezo a Deus à minha maneira.
– Mas o que é que você diz?
– Digo: “Jesus, estou aqui, sou o Jim”. E vou embora.
Passam os anos. Jim, sempre mais velho, doente, entra no hospital, na enfermaria dos pobres. Parece que Jim vai morrer depressa. O padre e a freira enfermeira estão perto de sua cama.
– Jim, diga uma coisa: por que é que, desde que você entrou nesta enfermaria, tudo mudou para melhor, e as pessoas ficaram mais contentes, felizes e amigas?
– Não sei. Quando eu posso caminhar, vou aqui e ali, visitando a todos, saúdo toda a gente, chamo toda a gente, faço-os rir, faço-os felizes. Com o Jim estão todos sempre felizes.
– Mas por que é que você é feliz?
– Vocês, quando recebem uma visita todos os dias, não se sentem felizes?
– Certamente. Mas quem é que o visita? Nunca vimos ninguém.
– Quando entrei nesta enfermaria, pedi duas cadeiras: uma para você e outra para o meu visitante, não veem?
– Quem é o seu visitante?
– É Jesus. Antes eu ia à igreja visitá-lo, agora já não posso. Então, às doze horas, Jesus vem.
– E o que é que Jesus lhe diz?
– Diz: “Jim, estou aqui, sou Jesus”…
Antes de morrer, vimo-lo sorrir e fazer um gesto com a mão em direção à cadeira próxima da sua cama, convidando alguém a sentar-se. Sorriu de novo e fechou os olhos.
Quando me faltam forças e não consigo sequer recitar minhas orações, repito: “Jesus, estou aqui, sou o Francisco. Isso me enche de alegria e consolo, experimento que Jesus me responde: “Francisco, estou aqui, sou Jesus”.

(Do livro “Cinco pães e dois peixes“)
* * *Cardeal Francisco Xavier Nguyen Van Thuan: de nacionalidade vietnamita, depois da última nomeação como arcebispo (1975), foi levado à prisão onde passou 13 anos, nove dos quais no mais completo isolamento. Em 1994 deixou o Vietnã e, em 1998, passou a presidir o Pontifício Conselho para a Justiça e Paz, Santa Sé. Em 2001 o papa João Paulo elegeu-o para o Colégio Cardinalício. Faleceu em 2002, vítima de câncer. Em 2007, o papa Bento XVI deu início à causa de sua beatificação.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016



São muitos as pessoas que devido a laicidade da educação que  duvidam da existência de Deus só pelo fato de existir a maldade no mundo, e para esclarecer estes mentes perdidas, encontrando um texto de Santo Agostinho que justamente retrata de forma clara e concisa o motivo pelo qual Deus permite o mal, no seu livro "Confissões".

                           É DEUS O AUTOR DO MAL?

       "Buscava a origem do mal, mas buscava-a erroneamente. E ainda mesmo, nessa indagação não enxergava o mal que nela havia (1) . Obrigava a passar, ante o olhar do meu espírito, todas as criaturas, tudo o que nelas podemos ver, como a terra, o mar, o ar, as estrelas, as árvores e  os animais sujeitos á morte, bem como aquilo que não vemos nela, como o firmamento do céu, todos os anjos e todos os espíritos celestes. Mas como se estes últimos fossem corpóreos, a minha imaginação colocou-os a uns nuns lugares, a outros noutros.
      Fiz da Vossa criação  uma única e imensa massa, diferenciada em diversos espécies de corpos: verdadeiros; outros, espíritos que eu imaginava sob a figura de corpos. Supú-la não com a sua própria grandeza, porque a não podia saber, mas com a que me agradou, porém, limitada de todos os lados. A Vós, senhor, infinito em todas as direções, imaginei-Vos a rodeá-la e penetrá-la de todas as partes, como se fôsseis um único mar em toda a parte e de todos os lados infinitos na Vossa imensidade, tendo dentro de si uma esponja da grandeza que nos aprouvesse, mas rodeada e inteiramente cheia dum mar imenso.
     Assim, a Vossa criatura finita, supunha-a eu cheia de Vós que sois infinito. Dizia: "- Eis Deus e eis o que Deus criou! Deus é bom e assombroso e incomparavelmente preferível a tudo isto. Ele é bom, e por conseguinte, criou boas coisas. E eis como Ele as rodeia e as enche! Onde está, portanto o mal? Donde e por onde conseguir penetrar? Qual a sua raiz e a sua semente? Porventura não existe nenhuma? Porque recear muito, então, o que não existe? E se é em vão que tememos, o próprio medo indubitavelmente é o mal que nos tortura e inutilmente nos oprime o coração. Esse mal é tanto mais compressivo quanto é certo que não existe o que tememos, e nem por isso deixamos de temer. Por consequência ou existe o mal que tememos ou esse temor  é o mal.
     Qual a sua origem, se Deus, que é bom, fez todas as coisas? Sendo o supremo e sumo bem, criou bens menores do que Ele, mas enfim, o Criador e as criaturas, todos são bons. Donde, pois, vem o mal? Ou seria pelo fato de Deus fazer tudo isso com matéria em que existia algo de mau, e ao dar-lhe a forma e ao ordená-la, ter deixado dele  alguma coisa que não transformasse em bem? E isso porquê? Não podia  convertê-la inteiramente de modo a não permanecer nela nada de mau, já que era Omnipotente? enfim, porque quis fazer dela alguma coisa, e porque não preferiu antes reduzi-la  totalmente ao nada, com a sua mesma omnipotência? Poderia acaso ela existir contra a sua  vontade divina? se a matéria é eterna, porque a deixou perdurar tanto no passado, por um espaço indefinido de tempo, e porque motivo se comprazeu em fazer ´dela alguma coisa, só tanto tempo depois?
    Se subitamente quis fazer alguma coisa, porque a nao reduziu ao nada, sendo Omnipotente, e não ficou só Ele, todo verdadeiro Bem, tudo sumo Bem, todo Bem infinito? Se não convinha que aquele  que é bom permanecesse estéril de obras boas, não poderia Ele  fazer desaparecer e aniquilar a matéria que era má, estabelecendo outra que fosse boa, donde criasse tudo? Não seria, pois, todo-poderoso, se nada de bom podesse criar sem ajuda daquela matéria a que Ele mesmo não tinha dado a existência".
     Revolvia tudo isto dentro do meu peito miserável, oprimindo pelas mordazes cuidados do temor da morte e por não ter encontrado a verdade. Estava, contudo, arreigado no meu coração a fé em "Jesus Cristo, Vosso Filho, senhor e salvador Nosso", professada pela Igreja católica. Se bem que me achava ainda informe e flutuando para além da norma da doutrina, contudo o meu espírito não abandonava a fé, antes cada vez mais abraçava a ela.
                                                       (a seguir...)

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

 

“Nenhuma oração que você talvez pudesse compor me traria tanta alegria como a Ave Maria”

Uma Ave-Maria bem rezada enche o coração de Nossa Senhora de alegria e nos concede grandes graças. Uma Ave-Maria bem recitada nos dá mais graças que mil Ave-Marias rezadas sem reflexão.

São Jerônimo nos diz que “as verdades contidas na Ave-Maria são tão sublimes, tão maravilhosas, que nenhum homem ou anjo poderiam compreendê-las inteiramente”. Santo Tomás de Aquino, príncipe dos teólogos ─ “o mais sábio dos santos e o mais santo dos sábios”, como o chamou Leão XIII, ─ pregou sobre a Ave-Maria durante 40 dias, em Roma, enchendo os corações de êxtase. O erudito jesuíta Padre Suarez declarou que, ao morrer, trocaria, de bom grado, todos os livros que havia escrito, todas as obras que havia realizado, pelo mérito de uma única Ave-Maria rezada devotamente.

Um dia, Santa Matilde, que amava muito Nossa Senhora, esforçava-se para compor uma bela oração em sua honra. Nossa Senhora lhe apareceu com estas letras douradas em seu peito: “Ave, Maria, cheia de graça”. E lhe disse: “Minha filha, nenhuma oração que você talvez pudesse compor me daria tanta alegria como uma Ave-Maria”.

O poder da ave-maria (pt.aleteia.org)

terça-feira, 13 de setembro de 2016

REFERÊNCIAS LITERÁRIAS 

           SOBRE AS GRAÇAS DIVINAS



/

" A santidade ou a graça santificante é um bem divino, uma inefável imitação  da divindade e da bondade ( 2 Ped. 1, 4), em razão da qual, por um sobre-humano nascimento, ocupamos uma ordem divina".
                                                    São Dionísio


 " Dá-se-nos a divindade quando penetra a graça  à nossa natureza  com sua luz celestial, e quando, pela glória, esta mesma graça  nos eleva acima  de si própria"                                                                                           São Máximo Martir


  " Que a graça, por assim dizer , nos diviniza. Tal o sentido que atribuem  a estas palavras do Salvador. Sois deuses e filhos do Altíssimos (S. Th.)  Em uma palavra, transporta-nos a graça até ao trono que somente Deus ocupa por sua natureza.                                                                                 São Tomás

  " Somos participantes da natureza divina, pela união com o Filho e o Espírito Santo; não de nome, mas na realidade, quantos temos crido somos semelhantes a Deus , pois fomos revestidos de uma beleza que sobrepuja a de qualquer criatura. Cristo formou-se em nós de um modo inefável, não como uma criatura em outra, mas como Deus em a natureza criada, transformando pelo Espírito a criação, - isto é, a nós mesmos - em sua imagem, elevando-a a uma dignidade sobrenatural".                                                                                                                       São Cirílio de Alexandria

domingo, 11 de setembro de 2016

REFERÊNCIAS LITERÁRIAS 
           SOBRE AS GRAÇAS DIVINAS




" Nenhum homem, nenhuma criatura traz em si o germe da graça"
                                                    Igreja Católica


 " Os que nele crêem farão coisas maiores do que aquelas que Ele próprio realizou na terra. (Jo 14 ,12) -  Poderia  servir o caso de S. Pedro que, com a sua sombra ( A: 5, 15-16).                                                                                                    Santo Agostinho

 " Se Deus te fez homem, e tu, - bem entendido, com a graça de Deus. - te fazes justo, realizas uma coisa melhor do que a produzida por Deus (Sermo 169 (15 de verbis Apostoli) c. II, n. 13
                                                     Santo Agostinho

" O  arrependimento, embora de maravilhosa eficácia, não é o único meio de obter a graça; todas as boas obras  sobrenaturais, realizadas em estado de graça, aumentam-na em nossas almas. Cada grau de graça adquirido coloca-nos muito acima de nossa natureza e nos une mais intimamente a Deus.
                                                     As maravilhas da graça divina

  "Se compreendêssemos, quanto vale para aumentar nossa dignidade um só ato de virtude, buscaríamos todas as ocasiões propícias para realizá-lo."
                                                     As maravilhas da graça divina
 

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

              OS LOUVORES DA GLÓRIA 

                         DA SUA GRAÇA
                                                                (Ef. 1, 6)

  DEUS omnipotente  e bom
Pai das luzes e das misericórdias,
de quem procede todo o dom, (1)
 Tu, que, segundo o desígnio de tua vontade, 
nos adotaste pela graça;
que, desde o princípio do mundo, escolhestes 
e predestinaste teu Filho, para nós, a fim de que , 
como filhos teus, sejamos santos e imaculados
 em tua presença com um santo amor (2);
concede-nos o espírito de sabedoria  e de revelação,
ilumina os olhos de nosso coração, e assim 
reconheceremos a esperança de tua escolha, 
as riquezas da glória de tua herança em teus santos (3).
Dá-me a luz e força para que consiga não diminuir 
com as minhas palavras este dom da graça,
pelo qual arrancas aos homens ao pó  de sua raça mortal
e os adotas em tua divina família.
Senhor Jesus Cristo, Nosso Salvador, Filho de Deus  vivo,
por teu sangue divino darramado para salvar-nos
 e restituir-nos a graça, faz com  que eu alcance mostrar, 
na medida de minhas  débeis forças, 
o inestimável valor desta graça, por ti a tal preço comprado.
     E tu, Espírito Supremo e Santo, 
seio e dom do divino amor, 
hóspede santificador de nossa alma,
por cujo intermédio a graça e a caridade
 se derramam em nosso coração,
tu, que por teus sete dons as nutres e sustentas, e
que jamais dás a graça  sem que te dês a ti mesmo,
revela-nos  sua essência e seu inapreciável valor.   
   Santa Mãe de Deus, Mãe da divina graça,
 faz que eu possa mostrar aos homens, 
transformados pela graça
 em filhos de Deus e filhos teus, 
os tesouros pelos quais entregaste teu Divino Filho.
   Santos Anjos, espíritos pelo esplendor da graça divina,
e vós, almas santas,
que passastes deste desterro aos sei do Pai celeste,
todos, que no céu gozais do fruto da graça,
ajudai-me com vossas orações para que,
dissipadas as nuvens que ocultam
 a meus olhos e aos olhos dos outros o sol da graça, 
refulja ele com todo o brilho, 
e desperte, por seu resplendor,em nossos corações, 
o amor e o desejo da vida eterna.

(1) - CF - Fl.  1, 4-6
(2) - Cf - Ef.  1. 17-18.
 

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

            REFERÊNCIAS LITERÁRIAS 
           SOBRE AS GRAÇAS DIVINAS


Iremos ao longo do mês de Setembro citar diversas referencias literarias sobre as  graças divinas afim de dar a conhecer a todas as almas famintas de Deus as suaves e poderosas ofertas que Ele nos mete à nossa disposiçao para alcançarmos uma felicidade eterna.

Dia 2 de Setembro de 2016

" A graça não é apenas o perdão dos pecados, nem tão pouco um simples favor externo de Deus, mas sim, uma qualidade divina inerente à alma, como um resplendor e uma luz que apagam toda mancha de nossas almas, deixando-as mais belas e ,mais brilhantes"
                                                                    Catecismo Romano 

"As graças atuais sobrenaturais e as virtudes da fé e da esperança, por mais que possam andar por vezes, separadas da graça santificante, jamais serão por ela diminuidas; ao contrário fará esta aparecem aquelas em toda a sua grandeza e valor" 
                                                                                                      Catecismo Romano

 "Pode Deus operar em nós coisas infinitamente maiores de que podemos desejar ou compreender" 
                                                                                                            São Pedro

"O mundo inteiro, com tudo o que contém, vale menos aos olhos divinos que um só homem em estado de graça"
                                                              São Tomás Aquino - Sum Theol.

 "O ceu e todos os coros dos anjos nao lhe podem comparar, deveria o homem sentir-se mais reconhecido a Deus pela menor graça do que se recebesse a perfeição dos espíritos puros ou o domínio dos mundos celestes."
                                                                          Santo Agostinho 
 

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

     AS MARAVILHAS DA GRAÇA DIVINA

                  Traduçao portuguesa pelo P. Dinarte Duarte Passos, C. M.
                                                     Editora Vozes Lda. 1952 - Petrapolis

                                    QUE SE ENTENDE POR GRAÇAS

     Antes de tudo, é o amor cheio de atenção de um superior para com um inferior - por exemplo, - um senhor para com o seu servo, um rei para com o seu vassalo, em nosso caso, Deus para com a sua criatura racional - sobretudo se a este amor se ajunta a complacência que encontra o primeiro nas qualidades e boas obras do segundo.
    Aplicamos também a palavra "graça" ao efeito deste amor, ao objeto ou motivo desta complacência. Solicitamos de um homem ou do próprio Deus uma graça, quando lhe suplicamos se digne conceder-nos alguma coisa pelo amor misericordioso e indulgente com que nos distingue. Neste sentido, chama a Sagrada Escritura de graça, a bondade, a beleza, a amabilidade que nos fazem dignos da complacência e do amor de Deus: A graça foi derramada em teus lábios, por isto Deus te abençoou para sempre (Sl 44, 3)
    Importa acrescentar  - e é de suma importância na questão que nos ocupa - que existem dois modos de gozar de consideração junto de uma pessoa de elevada posição. Podemos antes de tudo gozar de uma graça, por assim dizer, geral, ordinária, merecida, devida; e desfrutar também de uma graça, absolutamente especial, extraordinária, não merecida, livre. A esta ultima denominamos graça no sentido próprio e estrito.
    Consideremos, por exemplo, um poderoso e nobre rei. Amará ele com amor verdadeiro a todos os vassalos, enquanto lhe forem submissos, ou melhor pelo fato mesmo de o serem. Dedicará a cada um o interesse e o cuidado merecidos por sua condição e seus atos. Se mais não faz, cumpre apenas seu dever; poder-se-á dele dizer: é misericordioso, benevolente; não, porém, afirmar que "alguém caiu em suas graças". Isto só se dará quando amar a seus subditos ou alguns dentre eles mais intensamente do que é obrigado, quando lhes conferir maiores bens do que aqueles que lhes cabem por direito de nascimento. Será especialmente misericordioso, se consagra livremente a seus vassalos perfeito e total amor.; se, em sua benevolência, se abaixa a ponto de com eles tratar como com seus próprios filhos; se os eleva até à propria dignidade, e os cerca de honras reais; se, numa palavra, os coloca acima de sua condição, tornando-os, na medida do possível, semelhantes a seus próprios filhos.
    Apliquemos esta distinção à graça de Deus, da qual é apenas uma pálida imagem a graça do rei a que nos referimos. É Deus o maior soberano dos céus e da terra, pois tudo criou e tudo lhe pertence. Tendo tudo criado por amor, ama as suas criaturas com amor inefável, liberal e benevolente. Acima de todos os seres irracionais, ama, evidentemente, os dotados da razão, com infinito afeto de predileção, pois, feitos à sua imagem, podem estes conhecê-lo e amá-lo. Criou-os bons. A todos eles estende-se sua benevolência contanto que não o injuriem com alguma falta grave, e permaneçam dignos do seu primeiro amor pela fiel observância de seus mandamentos. Pode a criatura racional, por sua natureza e suas obras, estar, de certo modo, na graça de Deus.
                                                  ( a seguir....)