O Coração de Jesus e de Maria ao Mundo

O Coração de Jesus e de Maria ao Mundo

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

     AS MARAVILHAS DA GRAÇA DIVINA

                  Traduçao portuguesa pelo P. Dinarte Duarte Passos, C. M.
                                                     Editora Vozes Lda. 1952 - Petrapolis

                                    QUE SE ENTENDE POR GRAÇAS

     Antes de tudo, é o amor cheio de atenção de um superior para com um inferior - por exemplo, - um senhor para com o seu servo, um rei para com o seu vassalo, em nosso caso, Deus para com a sua criatura racional - sobretudo se a este amor se ajunta a complacência que encontra o primeiro nas qualidades e boas obras do segundo.
    Aplicamos também a palavra "graça" ao efeito deste amor, ao objeto ou motivo desta complacência. Solicitamos de um homem ou do próprio Deus uma graça, quando lhe suplicamos se digne conceder-nos alguma coisa pelo amor misericordioso e indulgente com que nos distingue. Neste sentido, chama a Sagrada Escritura de graça, a bondade, a beleza, a amabilidade que nos fazem dignos da complacência e do amor de Deus: A graça foi derramada em teus lábios, por isto Deus te abençoou para sempre (Sl 44, 3)
    Importa acrescentar  - e é de suma importância na questão que nos ocupa - que existem dois modos de gozar de consideração junto de uma pessoa de elevada posição. Podemos antes de tudo gozar de uma graça, por assim dizer, geral, ordinária, merecida, devida; e desfrutar também de uma graça, absolutamente especial, extraordinária, não merecida, livre. A esta ultima denominamos graça no sentido próprio e estrito.
    Consideremos, por exemplo, um poderoso e nobre rei. Amará ele com amor verdadeiro a todos os vassalos, enquanto lhe forem submissos, ou melhor pelo fato mesmo de o serem. Dedicará a cada um o interesse e o cuidado merecidos por sua condição e seus atos. Se mais não faz, cumpre apenas seu dever; poder-se-á dele dizer: é misericordioso, benevolente; não, porém, afirmar que "alguém caiu em suas graças". Isto só se dará quando amar a seus subditos ou alguns dentre eles mais intensamente do que é obrigado, quando lhes conferir maiores bens do que aqueles que lhes cabem por direito de nascimento. Será especialmente misericordioso, se consagra livremente a seus vassalos perfeito e total amor.; se, em sua benevolência, se abaixa a ponto de com eles tratar como com seus próprios filhos; se os eleva até à propria dignidade, e os cerca de honras reais; se, numa palavra, os coloca acima de sua condição, tornando-os, na medida do possível, semelhantes a seus próprios filhos.
    Apliquemos esta distinção à graça de Deus, da qual é apenas uma pálida imagem a graça do rei a que nos referimos. É Deus o maior soberano dos céus e da terra, pois tudo criou e tudo lhe pertence. Tendo tudo criado por amor, ama as suas criaturas com amor inefável, liberal e benevolente. Acima de todos os seres irracionais, ama, evidentemente, os dotados da razão, com infinito afeto de predileção, pois, feitos à sua imagem, podem estes conhecê-lo e amá-lo. Criou-os bons. A todos eles estende-se sua benevolência contanto que não o injuriem com alguma falta grave, e permaneçam dignos do seu primeiro amor pela fiel observância de seus mandamentos. Pode a criatura racional, por sua natureza e suas obras, estar, de certo modo, na graça de Deus.
                                                  ( a seguir....)