O Coração de Jesus e de Maria ao Mundo

O Coração de Jesus e de Maria ao Mundo

quinta-feira, 15 de setembro de 2016



São muitos as pessoas que devido a laicidade da educação que  duvidam da existência de Deus só pelo fato de existir a maldade no mundo, e para esclarecer estes mentes perdidas, encontrando um texto de Santo Agostinho que justamente retrata de forma clara e concisa o motivo pelo qual Deus permite o mal, no seu livro "Confissões".

                           É DEUS O AUTOR DO MAL?

       "Buscava a origem do mal, mas buscava-a erroneamente. E ainda mesmo, nessa indagação não enxergava o mal que nela havia (1) . Obrigava a passar, ante o olhar do meu espírito, todas as criaturas, tudo o que nelas podemos ver, como a terra, o mar, o ar, as estrelas, as árvores e  os animais sujeitos á morte, bem como aquilo que não vemos nela, como o firmamento do céu, todos os anjos e todos os espíritos celestes. Mas como se estes últimos fossem corpóreos, a minha imaginação colocou-os a uns nuns lugares, a outros noutros.
      Fiz da Vossa criação  uma única e imensa massa, diferenciada em diversos espécies de corpos: verdadeiros; outros, espíritos que eu imaginava sob a figura de corpos. Supú-la não com a sua própria grandeza, porque a não podia saber, mas com a que me agradou, porém, limitada de todos os lados. A Vós, senhor, infinito em todas as direções, imaginei-Vos a rodeá-la e penetrá-la de todas as partes, como se fôsseis um único mar em toda a parte e de todos os lados infinitos na Vossa imensidade, tendo dentro de si uma esponja da grandeza que nos aprouvesse, mas rodeada e inteiramente cheia dum mar imenso.
     Assim, a Vossa criatura finita, supunha-a eu cheia de Vós que sois infinito. Dizia: "- Eis Deus e eis o que Deus criou! Deus é bom e assombroso e incomparavelmente preferível a tudo isto. Ele é bom, e por conseguinte, criou boas coisas. E eis como Ele as rodeia e as enche! Onde está, portanto o mal? Donde e por onde conseguir penetrar? Qual a sua raiz e a sua semente? Porventura não existe nenhuma? Porque recear muito, então, o que não existe? E se é em vão que tememos, o próprio medo indubitavelmente é o mal que nos tortura e inutilmente nos oprime o coração. Esse mal é tanto mais compressivo quanto é certo que não existe o que tememos, e nem por isso deixamos de temer. Por consequência ou existe o mal que tememos ou esse temor  é o mal.
     Qual a sua origem, se Deus, que é bom, fez todas as coisas? Sendo o supremo e sumo bem, criou bens menores do que Ele, mas enfim, o Criador e as criaturas, todos são bons. Donde, pois, vem o mal? Ou seria pelo fato de Deus fazer tudo isso com matéria em que existia algo de mau, e ao dar-lhe a forma e ao ordená-la, ter deixado dele  alguma coisa que não transformasse em bem? E isso porquê? Não podia  convertê-la inteiramente de modo a não permanecer nela nada de mau, já que era Omnipotente? enfim, porque quis fazer dela alguma coisa, e porque não preferiu antes reduzi-la  totalmente ao nada, com a sua mesma omnipotência? Poderia acaso ela existir contra a sua  vontade divina? se a matéria é eterna, porque a deixou perdurar tanto no passado, por um espaço indefinido de tempo, e porque motivo se comprazeu em fazer ´dela alguma coisa, só tanto tempo depois?
    Se subitamente quis fazer alguma coisa, porque a nao reduziu ao nada, sendo Omnipotente, e não ficou só Ele, todo verdadeiro Bem, tudo sumo Bem, todo Bem infinito? Se não convinha que aquele  que é bom permanecesse estéril de obras boas, não poderia Ele  fazer desaparecer e aniquilar a matéria que era má, estabelecendo outra que fosse boa, donde criasse tudo? Não seria, pois, todo-poderoso, se nada de bom podesse criar sem ajuda daquela matéria a que Ele mesmo não tinha dado a existência".
     Revolvia tudo isto dentro do meu peito miserável, oprimindo pelas mordazes cuidados do temor da morte e por não ter encontrado a verdade. Estava, contudo, arreigado no meu coração a fé em "Jesus Cristo, Vosso Filho, senhor e salvador Nosso", professada pela Igreja católica. Se bem que me achava ainda informe e flutuando para além da norma da doutrina, contudo o meu espírito não abandonava a fé, antes cada vez mais abraçava a ela.
                                                       (a seguir...)